A Justiça de SP julgou improcedente ação de Jean
Rogers Rodrigo de Sousa, mais conhecido como Padre Rodrigo Maria,
que alegava violação de direitos por publicações de diversos
veículos de comunicação - como o site "O Antagonista", os matutinos
Estadão, Folha de S.Paulo e O Globo.
O autor - acusado por freiras de suposto abuso sexual
- afirmou que é alvo de "perseguição político-partidária", eis que
enquanto aguardava o desfecho de sua denúncia, algumas pessoas o
defenderam nas redes sociais. Entre elas, um dos filhos do
presidente Jair Bolsonaro, e que "as reportagens se intensificaram
quando Eduardo Bolsonaro o apoiou".
Com relação à sua excomungação da Igreja, asseverou
que a decisão do Papa foi uma resposta a solicitação de dispensa,
inexistindo qualquer processo contra si. E que diante de todos os
fatos narrados, sofreu dano moral, tendo sua vida sido "destruída,
bem como foi acometido por tristeza profunda", vivendo recluso, "não
podendo mais andar na rua e que está vivendo em profundo estado de
depressão".
Interesse público
A juíza de Direito Renata Heloisa da Silva Salles, da
1ª vara Cível de Itatiba/SP, ponderou que no caso há uma sequência
de situações ligadas padre Rodrigo Maria, ainda não encerradas, de
modo que "há atualidade nas informações apresentadas, o que esvazia
a pretensão de remoção das notícias com respaldo no direito ao
esquecimento".
"É certo que todas as notícias se deram de modo
atual, veiculando a informação verdadeira de que, deveras, houve
decisão determinando ao autor a perda do estado clerical e a
dispensa das obrigações correspondentes."
A magistrada observou que a ação só foi proposta em
outubro de 2019, cerca de oito meses após a divulgação das notícias,
não tendo constado dos autos outras repercussões na mídia.
"O autor não impugnou especificamente os abusos
relatados nas reportagens, cingindo-se a sustentar, de forma
genérica, que eram inverídicas as alegações e que teriam conotação
política."
Na sentença, a juíza ressaltou que todas as
reportagens contestadas citaram que o autor era suspeito ou apenas
acusado. E ainda que a referência ao seu posicionamento ideológico
se deu em razão do período de ânimos aflorados no campo político,
notadamente considerando que Jair Bolsonaro havia acabado de iniciar
o seu mandato.
"Ainda, ao que se observa, as referências não eram
falsas, considerando que o autor reconheceu abertamente a sua
predileção política."
Além disso, o fato de que Rodrigo Maria mantém sua
atuação em redes sociais e na internet em geral levou a julgadora a
concluir que ele "permanece como pessoa pública", o que reforça "o
interesse público que lastreia a negativa ao reconhecimento do
direto ao esquecimento".
Por fim, salientou a magistrada, não é possível
entender que o autor sofreu danos morais.
O advogado André Marsiglia de Oliveira
Santos, especializado em liberdades de expressão e de imprensa,
membro da Comissão de Liberdade de Imprensa da OAB/SP e da Comissão
de Mídia e Entretenimento do IASP, idealizador da L+ Speech/Press e
sócio do Lourival J. Santos Advogados, atuou em defesa do site O
Antagonista.
Processo: 1004458-15.2019.8.26.0281.
Extraído da internet em 22 de maio de 2022:
https://www.migalhas.com.br/quentes/337051/padre-rodrigo-maria-perde-acao-contra-veiculos-que-repercutiram-denuncias-de-abuso-sexual
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